quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sobre a culpa

Quando se é acertado por uma flecha, não adianta saber de que a flecha é feita, de que tipo de arco ela veio ou mesmo quem te acertou. O importante é tirá-la do peito mais rápido possível.

Quando algo ruim acontece, o sofrimento é inevitável. Porém, a escolha de postergá-lo ou não, é uma escolha individual, pessoal. Obvio que quando o sofrimento em questão não é nosso, e sim do próximo, a situação é mais delicada. Ainda mais se esta dor foi instigada por ações nossas.

Quando se causa dor ao próximo, a culpa é inevitável. E, para muitas pessoas, inclusive eu, a dor da culpa é maior do que o estrago causado. Mas, como no caso do sofrimento, existe a escolha entre aprofundar no remorso ou assumir a culpa e seguir adiante.

A escolha pelo remorso é a mais natural. A pessoa traz a culpa para si, passa a pensar exclusivamente em como poderia ter sido diferente, e começa a se martirizar pelo sofrimento alheio. Nesta posição, remoer a dor e viver na angustia parece mais justo. Mas isto nada mais é do que auto-punição. Para o outro, isto já não adianta mais. Ele não quer saber de quês, nem porquês, tampouco de atirar uma flecha de volta. Ele só quer tirar a flecha do peito.

Seguir adiante, por sua vez, é mais difícil, mas é mais sensato e menos penoso. Seguir adiante não significa fingir que nada aconteceu. Muito pelo contrario. O primeiro passo para tocar o barco é reconhecer a culpa e aprender com ela. Às vezes parece difícil não se deixar tomar pela aflição. Mas, como já falei, a auto-punição de nada serve. Quando se segue adiante, a dor se torna menos intensa e com o tempo se extingue.

O grande valor do perdão não está em ser perdoado, mas sim em reconhecer o erro e ter capacidade de pedir perdão. O importante é tirar a flecha do peito.


Trilha sonora: Poema da batalha - Transmissor