quarta-feira, 20 de junho de 2018

Parresía


O contexto geral me direcionava para casa. Cairia como uma luva eu entrar num sono profundo, passear por Nárnia e poder repousar meu corpo. Mas eu vibro em outra frequencia, eu sei que não é bem assim... Daí fui para a aula e vejo que não poderia ter me complicado mais. Algo me soou estranho na teoria que o professor apresentava e, mesmo agora, mais de vinte quatro horas passadas, me pego perdido, questionando as ideias e buscando razão no que foi falado.
    
O meu problema é duplo: por um lado, não consigo ver liberdade em um relação que é baseada no poder, por outro, não consigo ver sentido em ter coragem quando se é livre. E esse são os fundamentos da filosofia foucaultiana.
   
Bem, Foucault diz que toda relação é uma relação de poder. Ok até aqui. Mas, mais adiante ele afirma que a relação de poder só pode existir se há liberdade. Eita! Aqui deu nó. Pois, logicamente, diante destas duas premissas, poderia-se deduzir que todos são livres. Sei que há diversas concepções de liberdade, mas independente de qual adotar, eu não acredito que seja possível.
   
No pensamento de Foucault é retomado o conceito de "parresía", que significa ter coragem de dizer a verdade. Esse conceito é antigo e é muito pertinente... Mas quem hoje tem essa coragem? Bom, o problema é que ele afirma que a "parresía" implica em coragem e liberdade. Ora, como é possível ter coragem quando se é livre? Afinal, se se é livre, não há o que temer, então não há que falar em coragem.
   
Coragem é uma virtude, um equilíbrio entre o medo extremo e a total imprudência. A coragem só aparece quando há um desafio, quando há algo a perder. Se há liberdade, não há repressão, não há que se falar em medo. Portanto, não faz sentido falar em coragem.
    
Enfim, eu só escrevi mesmo porque estava entalado e não aguento ficar sem resposta... Pois como disse o professor da aula anterior, "filosofia não serve pra nada mesmo". Mas em uma análise mais fria, até faz sentido eu não compreender pois não sou dos mais corajosos, não tenho liberdade e, normalmente, fujo da verdade... Nesse sentido, retomo Pato Fu na década de 90: "na verdade continuo sob a mesma condição, distraindo a verdade, enganando o coração".

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Os dois ensinamentos da doutoranda


Conheci uma doutoranda de engenharia química que tinha uma tese interessantíssima: propor novos catalisadores para a reação de hidrodesoxigenação do fenol. Em outras palavras, busca de substâncias que podem favorecer a produção de combustíveis renováveis. Bacana, não?
  
Bem, em uma de nossas conversas me ocorreu que havia possibilidade de não se encontrar uma substância que fosse economicamente viável. Tentei me imaginar nessa situação: eu ficaria muito frustrado por ter perdido quatro anos de estudo e dedicação para não chegar a lugar nenhum. Mais do que frustração, sentiria vergonha do orientador, dos familiares e amigos que, de certa forma criam expectativa sobre o trabalho e agora poderiam me olhar vezes com dó, vezes com decepção. O único quadro que imaginei foi esse de dor e sofrimento. Afinal é muito doloroso reconhecer um fracasso e é muito sofrido ser julgado por tal.
  
Quando a questionei qual seria sua reação se, depois de quatro anos estudando, ela não achasse um catalisador satisfatório, a resposta foi surpreendente: "ficarei feliz, pois terei demonstrado que alguns caminhos não devem ser seguidos".
  
Gastei um certo tempo pra assimilar o que ela queria dizer. No entanto, quando compreendi, fiquei admirado. Em poucas palavras ela mostrou que o tempo nunca é perdido; o tempo que ela gastou permitiu desenvolver sua forma de pensar, possibilitou o conhecimento e a prática de técnicas de experimentação, proporcionou o conhecimento de pessoas e lugares e mais uma infinidade de experiências... E mesmo para os outros, o tempo que ela gastou sempre servirá para mostrar que o uso de certos catalisadores não é satisfatório. Em outras palavras, mesmo que a resposta não seja conclusiva, ao menos as possibilidades já foram reduzidas, e isso é bastante positivo.
  
Esta perspectiva foi fundamental para eu compreender e superar o fim do meu casamento. Eu não precisava me culpar,não precisava me sentir julgado; o divórcio não foi um fracasso, mas uma tomada de consciência de que uma mudança era necessária. A separação é um processo normal que deve ser encarado com a mesma naturalidade da união. Ao mesmo tempo que portas se fecham, outras se abrem e há sempre um caminho a ser percorrido. Foi assim que entendi que não precisava sofrer, ter vergonha ou me isolar, eu poderia apenas continuar por um caminho diferente, sem mágoas, ressentimentos ou pré-conceitos, mas sim com uma experiência que, se não me diz o que fazer, ao menos me indica o que não fazer.
   
A outra coisa que a doutoranda me ensinou é que no Tinder também pode ter pessoas interessantes! hahaha
  
Trilha sonora: Coragem - Biquini Cavadão